segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

da solidão

A semana passada comecei a escrever um post sobre a descoberta que fiz da macrobiótica. Conceito que não tinha aprofundado ainda. Engraçado que hoje ia escrever sobre a minha solidão de ideias e ideais e valores e lembrei-me que o que me despertou para a macrobiótica foi este desabafo da Diana Baptista no facebook (i love bio) sobre o caminho solitário da macrobiótica:

 "Lembro-me de uma vez Francisco Varatojo, numa consulta, me ter dito: "A Macrobiótica é um caminho solitário". Essas palavras ficaram a ecoar dentro de mim.
Lembro-me de uma vez a minha Tia me ter dito que um vizinho, de uns 50 anos na altura, não ter casado por não ter encontrado nunca nenhuma mulher macrobiótica que amasse. Essas palavras, há uns 10 anos, pareceram-me estranhas. Tanta gente para amar e ele não tinha encontrado ninguém que amasse?!
A Vida é solitária. Se é. Mas é especialmente o caminho que é solitário, não a Vida em si. Podemos optar por viver a vida em manada - uma 'vidinha'. Se quisermos transcender a matéria, essa tal de 'vidinha', a Vida é solitária. Só pode ser solitária. Não solidão, não me interpretem mal. É solitária. Solitária de sozinhos connosco mesmos.
Há umas duas semana, convidei alguns amigos para um jantar de passagem de ano em minha casa. "Macrobiótica", disse, "eu cozinho, vocês vão gostar, não precisam de gastar dinheiro sequer, só peço que cada um traga ou uma sobremesa ou uma bebida". Ainda insistiram "mas vê lá... Vai haver comida?" ou "não é melhor levarmos o jantar?". Não, "eu cozinho, não se preocupem com nada, é só estarem lá às 21h30 com uma bebida ou uma sobremesa". E ainda lhes disse que era apenas uma refeição, uma vez na vida, uma oportunidade para reflectirem, expandirem a consciência e experimentarem sabores novos (tudo biológico, de qualidade, como nenhum deles come nunca, porque é caro, porque não vale a pena, porque não percebem o que é comer ou alimentar-se...), que eu fazia muito gosto em convidar e cozinhar. Consegui convencê-los. Aparentemente. Tudo certo, 10 pessoas confirmadas.
Sexta feira encomendei os produtos para os 10 na Próvida - Produtos Naturais. Seitan para um assado com batata doce e legumes, patés, chouriça vegetal para assar, tofu para uma quiche com legumes, Tempeh para umas entradinhas boas,... O resto - legumes, batata doce, etc... - ia comprar amanhã. Pensei também na decoração: tudo azul e prateado, balões no teto, marcadores de lugar de festa, letras brancas da CASASHOPS.pt com os números 2015,...
Ontem numa mensagem uma amiga - das mais amigas - diz-me que ela e o namorado vão levar paio. Pedi-lhe que não, que era um jantar vegetariano e que se não se importasse de não comerem um vez carne, que agradecia, porque era em minha casa e não queria contribuir para o sofrimento animal. Disse que não, que o namorado era esquisito, e que ia passar fome se não levasse o paio (??). Disse-lhe que mesmo que ele não gostasse eventualmente de seitan, que nunca iria passar fome, porque poderia sempre comer as entradas, as sobremesas, os acompanhamentos do assado (legumes, batata, arroz,...). Disse-me que eu era radical. Disse-lhe que radical estava a ser ela. Disse-me que eu não podia obrigar ninguém a não comer carne. Disse-lhe que não lhe pedia que não comesse, só nessa única refeição, em minha casa, só nessa, apenas uma, pedia que não houvesse carne. Disse-me que sendo assim não iam. Que se fazia em casa dela. Disse-lhe tranquilamente, com o coração apertado e vontade de chorar e gritar e dizer coisas que me iria mais tarde arrepender, eu sei, que se não quisessem vir eu teria de aceitar, mas que mantinha o jantar em minha casa para quem quisesse vir.
Por um paio.
O caminho [especialmente o] mais elevado é solitário. É como ao topo das montanhas, não chegam todos. Mas também não querem chegar todos. Muitos preferem ficar cá em baixo, onde circulam, em círculos, muitos. É mais fácil. É menos ousado. E menos solitário. Muitos não repararam sequer que existem montanhas e cumes,para além dos olhos postos no chão, das palas da mente, da matéria.
Durante a maior parte da vida, nunca disse nada a ninguém. Diziam: 'Leite faz tão bem e tem tanto cálcio!..' e eu nada. 'Prova umas moelas...". E eu nada. "Tenho de ir à farmácia buscar qualquer coisa, ando sempre constipado". E eu nada. "Ando a fazer dieta, deixei de comer arroz". E eu nada. "O meu filho está sempre doente..." E eu nada. "Feijão com arroz faz mal". E eu nada. "O McFish é uma boa opção para quem não come carne". E eu nada. Ia aos jantares e almoços, com pratos combinados de carne, e comia só os acompanhamentos. E não dizia nada.
Depois [estupidamente] achei que podia contribuir de alguma forma para que outros alargassem horizontes, achei que devia partilhar o que sei, que esses infelizmente não tinham tido acesso como eu, ao conhecimento. Achei que podia mudar mentalidades. Que podia mudar o mundo, se conseguisse transmitir aquilo que é simples, evidente. Para mim. Não só alimentação, não só consciência dos outros Seres que sentem, não só corpo. Mas também espírito, conduta, mente, filosofia, religião. E até agora, em cerca de 4 anos, só duas pessoas ouviram com o coração... Só para duas pessoas fez o 'click', como se sempre tivessem sabido, mas estivessem às escuras e alguém tivesse simplesmente carregado no interruptor. E fez-se luz. Fácil.
Eu enganei-me, confesso. Não se pode mudar o mundo. O mundo não tem discernimento para mudar. Seria mais fácil mudar de mundo, para outro planeta, limpo, puro, do que mudar este mundo.
É mesmo assim. Por muito que custe. Por muito que alguns não quisessem que fosse assim. "A Macrobiótica é um caminho solitário". Cabe a cada um, que está nesse caminho, aceitar que é solitário, e sentir-se acompanhado, mais não seja por si mesmo.

Nascemos sozinhos e morremos sozinhos. Mais vale não nos habituarmos muito à não-solidão. Se não, é capaz depois de custar mais. [Deve ser por isso que me deparo com tantos corações surdos.]"





3 comentários:

  1. Estou a ler as tuas palavras e revejo-me em cada uma delas...é triste mas já me habituei a termos de fazer o nosso caminho independentemente dos outros...quem tem uma ideia inovadora é demovido dela porque não convém que sejamos nós a apresentá-la!!Como te entendo...

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  2. Compreendo perfeitamente as tuas palavras. Por mais que mostremos o que está correto há sempre resistência à mudança.
    "Para quê mudar se já estamos habituados a este mundo? Mal por mal já sabemos com o que contamos!" Mais vale mudarmos nós, mesmo que seja de forma solitária! Se nos sentimos bem ... porque não?

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  3. Eu cá adoro experimentar! Seja comida macrobiótica, vegetariana ... you name it !
    Quem disse que por não ter carne ou peixe não pode ser uma refeição deliciosa? Que estupidez !
    Levar um paio?? WTF ??? Que falta de tudo!! Eu cá aceitava só para lhes dar com ele na cabeça!!

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