sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Das amigas de longa data

Hoje senti-me tão feliz numa conversa que tive com a minha amiga S.. Amiga de quarto na Residência dos Combatentes em Coimbra. O 404. Tempo da Faculdade. Ela vai rir-se porque nem estamos assim numa fase muito boa as duas. Mas deixou-me tão feliz a nossa conversa, porque apesar da fase que estamos a passar (bastante diferentes entre as duas) consegui perceber que as duas somos tão felizes! Que passámos por mudanças tão significativas nestes anos todos que sendo algumas difíceis, não deixaram de ser as mais importantes para fortalecer a nossa personalidade e vincar o nosso carácter e aquilo que queremos da vida. Sem deixar de ter a nossa essência, pelo contrário, cada vez mais encontramos a nossa essência verdadeira. E isso deixa-me com uma serenidade inexplicável, não só por mim, mas por ela também.

Lembrei-me deste texto que li à pouco tempo sobre felicidade da Martha Medeiros. E faz algum sentido.

35 anos para ser feliz

"Uma notinha instigante na Zero Hora de 30 de setembro: foi realizado em Madri o Primeiro Congresso Internacional da Felicidade, e a conclusão dos congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 35 anos. Quem participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, artistas de circo? Não sei. Mas gostei do resultado.

A maioria das pessoas, quando são questionadas sobre o assunto, dizem: “Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes”. É o que eu pensava quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado, minimizados por um garden party de vez em quando, um campeonato de tênis, um feriadão em Garopaba. Os tais momentos felizes.

Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde está você? Aqui, na casa dos 30 e sua vizinhança.

Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pense bem: depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Samsonitee não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy. Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o cara.

Depois que cumprimos as missões impostas no berço — ter uma profissão, casar e procriar — passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Depois dos 35, conforme descobriram os participantes daquele congresso curioso, estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta."

Martha Medeiros - Outubro de 1998

1 comentário:

  1. Cada vez mais encontramos a nossa essência! :) Gostei muito do texto... obrigada por mr ajudares a encontrar-me mais um bocadinho :) beijinhos :)

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